
Foto obtida no perfil do MLBRN.
Na madrugada do 7 de setembro, quando se iniciava a data em que o Brasil celebra sua Independência, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e coletivos parceiros ocuparam um prédio histórico e abandonado no centro de Natal, dando início à chamada Ocupação Palestina Livre.
O imóvel, que pertence à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estava desativado há mais de uma década. Nesse período, deixou de cumprir função social e passou a ser apenas alvo da especulação imobiliária — cenário que contrasta com o agravamento do déficit habitacional em Natal e no Rio Grande do Norte.
Segundo dados do movimento, o estado ultrapassa a marca de 130 mil moradias em falta, enquanto imóveis vazios se deterioram diante da omissão do poder público e da complacência de setores econômicos privilegiados. “Moradia é um direito, não um privilégio”, ressaltam os organizadores.
Resistência local, solidariedade global:
A escolha do nome da ocupação não é casual. O MLB e apoiadores relacionaram a luta por moradia no Brasil ao drama vivido pelo povo palestino, denunciando o genocídio promovido por Israel. Para os organizadores, a ocupação também é um ato político internacionalista de solidariedade.
“É um ato de resistência e dignidade. Reivindicamos o direito básico à moradia, mas também denunciamos o massacre contra o povo palestino”, afirma nota divulgada pelo movimento.
O prédio ocupado foi rebatizado como Palestina Livre, em homenagem à causa palestina e como símbolo de enfrentamento às injustiças que unem, em diferentes escalas, os moradores sem-teto do Brasil e as vítimas da violência no Oriente Médio.
O recado ao poder público:
Além da denúncia internacional, o MLB exige que o governo federal, o governo estadual e a própria UFRN cumpram seu papel social e avancem em políticas de habitação. Há também uma pressão política: os ocupantes pedem que os governos rompam relações com o regime sionista, como forma de posicionamento firme diante da violência em Gaza.
A ocupação acontece em frente à Praça do Estudante, na Cidade Alta, e já mobiliza doações, solidariedade popular e apoio de coletivos como o Correnteza Potiguar, Movimento de Mulheres Olga entre outros.
Reflexão necessária:
O caso expõe contradições que não podem ser ignoradas: enquanto prédios históricos apodrecem vazios no coração de Natal, milhares de famílias vivem sem teto ou em condições precárias. O que falta não são imóveis — mas vontade política para transformar espaços ociosos em habitação digna.
Ao mesmo tempo, a articulação entre a luta local por moradia e a solidariedade internacional aos palestinos mostra que movimentos sociais do Rio Grande do Norte não se restringem a pautas imediatas, mas dialogam com causas globais, ampliando o alcance político de suas ações.
A Ocupação Palestina Livre é, assim, mais que um ato emergencial de sobrevivência: é um chamado à reflexão sobre justiça, dignidade e sobre o papel do Estado diante das necessidades mais básicas do seu povo.
