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Patinetes Elétricos em Natal: A Pressa que Pode Custar Caro.

Wesley Caetano 2 meses ago 0 31

Natal acaba de aderir a mais uma “novidade de mobilidade urbana ou como alguns chamam da micro mobilidade”: os patinetes elétricos da empresa JET. A iniciativa foi vendida como inovação, alternativa sustentável e atração turística. No entanto, em poucos dias de funcionamento, a cidade já registra acidentes e usos indevidos, confirmando aquilo que a realidade urbana gritava desde o início: a pressa em implantar o projeto não respeitou as condições da cidade nem a segurança da população.

Uma cidade sem estrutura para isso:

É público e notório que Natal tem calçadas irregulares, esburacadas, sem padrão de acessibilidade e, em muitos casos, simplesmente inexistentes. As ciclovias, por sua vez, são fragmentadas, descontínuas e insuficientes para garantir trajetos minimamente seguros. Jogar centenas de patinetes nesse cenário é quase como empurrar a população para o improviso — e o improviso, no trânsito, resulta em acidentes.

A propaganda e a realidade:

O discurso oficial enaltece o caráter turístico, a sustentabilidade e a modernidade. Mas o que se vê nas ruas é diferente: patinetes circulando em calçadas, estacionados de forma irregular e condutores sem a mínima noção de regras de trânsito. Em outras capitais, como Belém e Salvador, os números de viagens foram comemorados, massacrando problemas também. Contudo Natal não pode se iludir com comparações. Lá, a malha cicloviária e a infraestrutura urbana são muito mais robustas. Aqui, estamos jogando o problema nas costas do pedestre, que já enfrenta calçadas hostis e trânsito agressivo.

Quem paga a conta?

Quando um acidente acontece, quem se responsabiliza? A propaganda oficial fala em seguro e assistência, mas na prática sabemos que os custos recaem sobre o SUS, sobre as famílias e sobre a própria cidade que não tem sequer um hospital de trauma especializado em acidentes de micromobilidade. Mais grave ainda: a fiscalização municipal é limitada e já não consegue dar conta do transporte coletivo ou do trânsito tradicional. Acrescentar um novo modal, sem garantir estrutura de suporte, é uma irresponsabilidade.

O risco de aprofundar desigualdades:

Outro ponto pouco discutido é a exclusividade social. O custo do aluguel dos patinetes não é acessível para a maioria da população de Natal, sobretudo nos bairros periféricos. Ou seja, vende-se a ideia de mobilidade coletiva, mas na prática o serviço atende turistas e uma pequena parcela da classe média. Enquanto isso, os trabalhadores seguem enfrentando ônibus lotados e transporte caro e precário. O resultado é uma política de vitrine, que mostra modernidade apenas para quem pode pagar.

Natal precisa de prioridades reais.

Se a prefeitura de Natal realmente se preocupa com mobilidade, deveria começar por investir em calçadas acessíveis, ciclovias integradas, transporte público de qualidade e segurança viária. Só depois disso poderíamos falar em inovação tecnológica e modais alternativos. Pular etapas significa sacrificar vidas em nome de propaganda.

Conclusão.

Os patinetes elétricos da JET em Natal são um exemplo claro de como políticas públicas podem ser lançadas mais para gerar manchetes do que para resolver problemas reais. Em uma cidade com calçadas irregulares, ciclovias insuficientes e fiscalização precária, a pressa em adotar um serviço privado de mobilidade tem se traduzido em acidentes e riscos.

A inovação, quando chega sem planejamento, vira ameaça. E Natal não pode se dar ao luxo de brincar com a vida das pessoas em nome da modernidade de fachada, bola fora da prefeitura!

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